Segunda, 18 Outubro 2021 09:07

JUSTIÇA

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JUSTIÇA

“…pois qual é a parte dos que desceram à batalha, tal será também a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais”.  (1 Sm 30.24)

 

Samuel, filho da ex-estéril Ana, foi juiz, profeta e sacerdote em Israel e conforme os estudiosos, são de sua autoria grande parte dos dois volumes que levam o seu nome (1 e 2 Samuel). O primeiro livro de Samuel traz as ações do governos de Saul e Davi e faz a ponte ligando o período histórico que Israel não teve rei com o reinado de Saul e posteriormente com o reinado de Davi.

Contextualizando a narrativa, veja que Davi e seus guerreiros saíram em perseguição a um grupo de amalequitas que queimaram a cidade filisteia de Ziclague e levaram todos seus moradores como escravos, inclusive as mulheres de Davi e as esposas de seus soldados. Houve perseguição, luta campal e Davi saiu vencedor. Outras particularidades também aconteceram nessa história, mas resumidamente esse foi o resultado (1 Sm 30).

Veja que ter raiva, guardar rancor e prometer retaliações é um sentimento que está dentro do coração do homem, afinal, desde os primórdios da humanidade, Deus observou que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos do coração humano era má continuamente, ou seja, todos os dias o homem luta contra si mesmo para não fazer o que é mau aos olhos de Deus (Gn 6.5; Rm 7.18).

O texto diz que Davi tinha cerca de seiscentos homens prontos para a guerra e quando retornaram à cidade de Ziclague onde moravam, viram que a cidade fora queimada e suas famílias foram levadas como escravas (1 Sm 30.1). Emocionalmente abalados todos eles quiseram apedrejar Davi, culpando-o pela situação (1 Sm 30.6). Pode-se imaginar que se não fosse pela misericórdia de Deus Davi teria sido morto pelos seus amigos, todavia, após serenados os ânimos, Davi e os seiscentos saíram ao encalço dos inimigos. Desses, duzentos homens não prosseguiram na perseguição alegando cansaço e ficaram no meio do caminho, vigiando as bagagens. Com quatrocentos homens, Davi os derrotou e quando voltaram, houve discussão entre os soldados sobre a divisão dos despojos de guerra.

Na visão dos quatrocentos homens, os amigos que não foram à luta, não eram merecedores e não teriam nenhum direito sobre os despojos  (1 Sm 30.22). A narrativa de Samuel mostra que Davi interviu na contenda e determinou que os despojos fossem distribuídos de maneira igualitária (1 Sm 30.24).  Tanto para quem foi como para quem ficou guardando e protegendo a bagagem, aliás, lembre-se: quem foi à guerra se viu livre de pesos e cargas desnecessários que ficaram para trás. Pense um pouco!

Entenda bem que a narrativa da história mostra um desajuste do ser humano que muitas das vezes não consegue olhar para seus amigos e irmãos com olhos de bondade, compaixão e igualdade. É de se imaginar que quando quiseram apedrejar Davi, todos aqueles soldados tinham o mesmo pensamento, todos estavam sentindo na própria pele o peso de perder suas mulheres, filhos e filhas e quando saíram para perseguir os inimigos, todos também tinham o mesmo ideal, entretanto, bastou um evento inesperado - cansaço -, para que brotasse o perverso sentimento da desconsideração. Para aqueles que nutriam o desejo de não repartir o resultado da guerra, os amigos de outrora não tinham nenhum valor. Ou seja, eles serviram enquanto eram úteis, mas sem utilidade não eram mais merecedores. Reflita sobre o valor da utilidade em dias de hoje!

Entenda bem que vivemos numa sociedade que á cada dia valoriza o mérito, se faz, tem valor e se não faz, não recebe. Com memória curta o homem não consegue trazer às suas lembranças o quanto alguém lhe foi útil num passado recente e sem essa lembrança, é fácil praticar o abandono e o descarte. Ao decidirem não repartir os despojos, aqueles soldados não levaram em consideração que seus amigos em épocas passadas lutaram juntos, é provável que um tenha defendido e/ou até ajudado o outro nas batalhas, mas ali naquele momento, essas atuações do passado não tinham mais nenhum valor, o que que valia era o mérito do tempo presente. Pasmem!

O texto afirma que Davi interviu e mostrou aos soldados que a meritocracia é totalmente diferente da reta justiça e, mesmo lá no Antigo Testamento, se percebe que no Reino de Deus, a aplicação da reta justiça não acontece por meio do merecimento, mas por meio do amor, amor originário em Deus. Reflita!

Jesus deixou claro na parábola dos trabalhadores da vinha que a aplicação da justiça também se diferencia do mérito. Na parábola, o dono da vinha paga a mesma diária tanto para quem começou o trabalho nas primeiras horas do dia como para o trabalhador que chegou quase ao findar do tarefa. Isso é justiça, muito embora não tenha agradado àqueles que começaram o trabalho mais cedo e só enxergavam o caso debaixo de sua ótica (Mt 20.1-16)

Compreenda que mesmo em épocas diferentes, tanto Davi como o ensino de Jesus mostram  que a justiça do reino de  Deus não é fundamentada no mérito, mas na igualdade de tratamento, na  graça, na misericórdia e na justiça com amor. Saiba que Jesus morreu na cruz para salvar a todos, e indistintamente, ninguém não merecia, ninguém tinha mérito algum para ser perdoado, mas por meio da graça, o sacrifício e a salvação veio para todos. Tanto para quem fez mais no reino quanto para quem chegou agora e não teve tempo para realizar mais. Você entende isso? Grande abraço.

Jesus Cristo Filho de Deus os abençoe, sempre!

 

Milton  Marques de Oliveira - Pr

Ler 683 vezes Última modificação em Segunda, 18 Outubro 2021 17:31
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