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Segunda, 22 Novembro 2010 13:46

Naamã – Lepra e Arrogância

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A Bíblia Sagrada narra a história de um homem chamado Naamã, chefe do exército da Síria, através do qual o Senhor Deus dera livramento àquela nação. Tratava-se de um homem extraordinário, valoroso, porém leproso. Mas esse homem de grande valor para o seu rei, tinha além da lepra um mal ainda maior, era arrogante e que por causa disto, por pouco não perdeu a benção de ser curado de sua doença, conforme veremos adiante. Nos tempos de Naamã, um leproso era condenado a viver no isolamento, como medida de proteção da sociedade, evitando assim, que pelo contato ocorresse a disseminação da doença. Se ainda hoje esta doença tem sido motivo de discriminação, imagine como era a vida de um leproso naquele tempo. 

Naamã era um homem que tinha que conviver, de um lado com a glória de suas valorosas conquistas, e, de outro, com a tristeza de não poder receber um abraço, nem mesmo de sua própria mulher. Não podia frequentar a sociedade, não podia se banhar nas águas claras dos rios da Síria para não expor a sua doença. Não é difícil imaginarmos a angústia vivida por esse homem, que, sequer podia ter os seus filhos em seus braços e nem podia repartir o seu leito com a sua esposa. Não havia intimidades, era tudo separado, talheres, roupas, tudo. Um importante general, mas que tinha que viver separado de tudo e de todos, até mesmo na sua própria casa. Triste condição de vida para um homem com tantas estrelas, mas cheio de lepra.

Sabemos que a lepra é uma doença que causa repugnância até mesmo devido ao mal cheiro que exala de seus portadores. Eu já tive a oportunidade de conviver com pessoas com grau avançado dessa doença e de fato não é nada agradável. O mal cheiro que emana da lepra é de fato repugnante e os próprios leprosos têm consciência disso, tanto assim que procuram evitar o contato com outras pessoas, como forma de se preservarem dos constrangimentos.

Pois bem, assim que soube da notícia da possibilidade de cura, levou Naamã o fato ao conhecimento de seu rei, que, por sua vez escreveu carta ao rei de Israel apresentando o seu general e solicitando que o restaurasse de sua lepra. De posse da carta do rei, partiu Naamã para Israel, levando consigo grande quantidade de ouro e de prata para presentes, como era costume da época. Entretanto, um grande equívoco foi cometido pelo rei da Síria e também por Naamã. É que Naamã foi enviado ao rei de Israel, quando a orientação dada pela criada de sua esposa, era para que ele se apresentasse ao profeta Eliseu e não ao rei de Israel e Naamã sabia disto, mas lhe era muito mais conveniente ir ao rei do que ao profeta. Com isto Naamã começava a revelar algo terrível de seu comportamento: a arrogância. Nem mesmo a lepra com toda a discriminação que provocava conseguia afastar do coração desse homem a sua arrogância. Imagine o que era conviver com um homem leproso, mal cheiroso, “podre” e ainda assim, arrogante. Embora soubesse a quem deveria procurar, preferiu ir ao rei a ser recebido por um simples homem de Deus. O profeta não tinha um palácio para recebê-lo, provavelmente residia numa casa modesta e certamente não à altura do ilustre chefe do exército da Síria.

Certo é que, com a chegada de Naamã com a carta endereçada pelo rei da Síria, o rei de Israel se perturbou muito, entendendo que se tratava de uma provocação do rei da Síria, já que ele não tinha poder para livrar aquele homem de sua lepra.Muitas vezes também somos tentados a buscar ajuda dos grandes líderes religiosos, de renomados ministros do evangelho, achando que se eles impuserem as suas mãos sobre nós e clamar ao Deus do céu em nosso favor, alcançaremos êxito na solução de nossos problemas, quando Deus às vezes quer usar pessoas simples e anônimas para através delas nos abençoar. Deus não faz acepção de pessoas e usa quem ele quiser usar.

Mas, como o nosso Deus não é um Deus de confusão e a obra que ele inicia ele termina, foi feito então, saber ao profeta Eliseu o que estava acontecendo no palácio e de como o rei de Israel havia se desfalecido por causa disto. Assim, enviou Eliseu recado ao rei para que não se afligisse por causa de Naamã, mas que o enviassem a ele e logo saberia que havia profeta de Deus em Israel. Então foi Naamã enviado ao profeta Eliseu. Entretanto, Naamã, na sua arrogância, esperava que no mínimo o profeta lhe fosse receber com honrarias, que ele saísse ao seu encontro, que invocasse o poder de seu Deus e lhe impusesse as mãos sobre a sua lepra e o purificasse.  

Nada do que Naamã imaginou aconteceu. Para a sua grande decepção o profeta não o recebeu em sua casa e sequer saiu ao seu encontro. Isto sem dúvida era algo inadmissível para um homem valoroso, de grandes conquistas, chefe do exército da Síria, uma destacada nação daquela época. Naamã não estava acostumado a ser recebido daquela forma. Qualquer um o receberia com honrarias, mas Eliseu o tratou conforme ele precisava ser tratado e não conforme ele gostaria que fosse, e, mais, Eliseu mandou dizer a ele que era para ir se banhar sete vezes no Rio Jordão para que pudesse ficar livre de sua lepra (2Rs 59,10), fato esse que deixou Naamã ainda mais indignado, conforme se pode ver no versículo 12 do texto em apreço.  

2Rs 5.12 – Disse Naamã: não são, por ventura, abano e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado? E voltou-se e foi com indignação.

A questão é que havia em Naamã um mal muito pior do que a sua lepra, mal esse não reconhecido por ele. Como vimos na sua expressão de indignação, Naamã era arrogante e presunçoso. Se a sua lepra cheirava mal às narinas dos homens, muito pior cheirava às narinas de Deus a sua arrogância e Deus não tolera esse mal, pois que lhe é abominação.

Pv. 16.5 (ARA) - Abominação é ao SENHOR todo arrogante de coração: e evidente que não ficará impune.

Portanto, Deus tinha que tratar algo muito mais sério na vida de Naamã do que a lepra de seu corpo. A grande dificuldade nestes casos é que geralmente não conseguimos identificar por nós mesmos esses problemas que se alojam na alma, e quando o detectamos, nos recusamos a submeter ao seu tratamento. Mas de um modo geral, são esses males que quase sempre nos impede de receber as bênçãos de Deus na nossa vida. A dificuldade no seu tratamento quase sempre se dá em razão de que para tratarmos esse tipo de mal, é preciso expor a(s) nossa(s) ferida(s), e esta é a parte mais difícil. Uma pessoa arrogante tem muita dificuldade em obter a sua cura, mas, chega determinado momento, que não dá mais para continuar convivendo e sendo consumido por esses terríveis males. É quando tomamos a atitude de trazer à tona e revelar a nossa “lepra” do ciúme, da arrogância, da mágoa, da inveja, da falsidade e tantas outras mais, que certamente irá causar repugnância às pessoas em nossa volta, mas só assim poderemos obter a cura. Não há como tratar esses males sem a sua exposição. As doenças da alma e do coração precisam ser confrontadas, expostas, para então serem tratadas.

Naamã precisava ser tratado da lepra e da arrogância. A lepra ele a conhecia e queria dela se livrar. A arrogância, entretanto, ou lhe era desconhecida ou então ele não reconhecia o tremendo mal que ela lhe causava, muito embora ela fosse notória na sua vida. O tratamento dado a Naamã por Eliseu foi um tratamento de choque, indesejado e inesperado. Pode até parecer que Eliseu foi indelicado com o general e que o teria tratado com desprezo. Mas não foi nada disso. Eliseu era um profeta de Deus e agia sob a direção divina. Ele não conhecia o general, mas Deus sim, e esse foi o método escolhido por Deus para curar Naamã da sua arrogância e de sua lepra.

Assim, com tamanha indignação Naamã deixou a casa de Eliseu. Entretanto, alguns de seus servos, que certamente tinha por ele grande estima, conseguiram convencê-lo a cumprir a ordem do profeta. Afinal tratava-se de algo muito simples e o máximo que poderia acontecer era não dar certo e tudo continuaria como antes. Mas para Naamã o mergulhar nas águas do Jordão não era uma tarefa tão simples assim. Embora as águas do Jordão não fossem tão limpas como as águas dos rios de Damasco, o grande problema de Naamã era ter que se despir de sua bela farda na presença de seus servos e revelar a eles que ele era um homem podre. Toda a sua ostentação cairia por terra, pois ele é que era o leproso, o doente, o mal cheiroso, seus homens não! E, para complicar ainda mais a situação de Naamã, não se tinha notícia de nenhum outro leproso que tivesse sido curado por intermédio do profeta e nem de qualquer outro naquele tempo. E se ele não fosse curado? Como encararia a sua tropa depois da revelação de seu estado deplorável?

Mas, por fim, Naamã, decidiu obedecer à recomendação do profeta e confrontou o seu problema. Ele se humilhou diante de toda a sua comitiva, tirou a sua pomposa farda e expos as suas feridas e o seu mal cheiro. Mostrou que era um homem podre sim, mas que estava disposto a se submeter ao tratamento de Deus. A Bíblia diz que Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes (Tg 4.6), e, no sermão da montanha, de Mt. 5.3 (ARA), disse Jesus: bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Naamã acreditou no Deus de Israel. A bíblia diz em 2Cr 20.20: “...Crede no SENHOR, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis”. Naquele instante Naamã acabava de ser curado de seu mal maior, a arrogância. Então mergulhou nas águas do Jordão, uma, duas, ..., e, na sétima vez que mergulhou, quando emergiu das águas, a sua pele estava purificada. Que alegria deve ter sido para aquele homem e para toda a sua comitiva. Um novo Naamã acabava de surgir, sem a arrogância no coração e sem as feridas mal cheirosas da carne.

Um Naamã transformado agora retorna à casa do profeta, desta vez, sem a arrogância, e assim, pode ser recebido pelo profeta. Ele reconheceu e disse ao profeta que em toda a terra não havia Deus, senão em Israel (2Rs. 5.15). O poderoso general que fora à Israel levando ouro e prata para dar de presente, agora suplicava ao profeta que lhe permitisse levar para a sua terra pelo menos uma carga de terra de Israel, para que sobre ela pudesse adorar ao Deus de Israel, nas terras da Síria. Que transformação maravilhosa ocorreu na vida de Naamã. Não temos maiores informações a respeito do que sucedeu a ele após o retorno à sua terra. Mas, sem dúvida podemos tirar muito proveito desta lição.

Aprendemos que Deus não “quebra galho”, não faz remendos, nem faz nada provisório. O que ele faz é perfeito, completo e definitivo. Quando colocamos a nossa vida em suas mãos para que ele sare as nossas feridas e nos purifique de todo mal, podemos estar certos de que ele irá começar o tratamento pela raíz do problema. Primeiramente ele quer tratar os males do coração, da alma, depois os físicos e materiais. A cura de Deus se dá de dentro para fora, pois a cura da alma é incomparavelmente mais importante e necessária, quando comparada com outras de nossa vida. Ela nos preserva a vida para a eternidade com Deus, enquanto as demais preservam a vida física, apenas para a nossa curta duração na terra.

Por vezes deixamos de receber muitas bênçãos de Deus por causa da nossa arrogância. Queremos que ele faça do nosso jeito, no nosso tempo e em local às vezes por nós determinados. Só que Deus não age dessa forma. Ele não se submete aos nossos caprichos, ele não recebe ordens e nem aceita opiniões. Ele opera do jeito dele, no tempo dele e no local por ele determinado e pronto! Ele é soberano! Absoluto! Para recebermos o tratamento de Deus, temos que nos despir das roupagens que escondem as nossas mazelas e apresentarmos a ele como de fato somos, pois não há como enganá-lo. Paulo, o grande apóstolo, certa feita assim se expressou: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7.24).

Se dermos a Deus a liberdade para ele agir na nossa vida e nos curar por completo, espírito, corpo e alma, ainda que ele tenha que nos quebrar e nos fazer de novo, seremos curados. Ele é poderoso o bastante para nos transformar num novo ser, manso e humilde de coração, curado das feridas do corpo e da alma, libertos e vitoriosos. Então estaremos por cima e não por baixo, por cabeça e não por calda, habitando na terra, mas vivendo a realidade do reino dos céus, da vida abundante prometida por Jesus. Então poderemos orar assim: Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu.

Que Deus, em Cristo Jesus vos abençoe!

José Divilson dos Santos
(presbítero e advogado)
15.11.2010

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