Segunda, 22 Dezembro 2014 15:54

PRIMEIROS CUIDADOS COM O BEBÊ- PARTE 2

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                  Parte:2

CÓLICAS E REFLUXO  Parte.2

Drauzio – Mães e pais ficam muito aflitos quando percebem que o filho está com cólicas ou tendo refluxo. Há quem diga que bebê não tem cólicas.

Antranik Manissadjian – A criança tem cólica em decorrência da própria imaturidade do organismo. Sob o ponto de vista físico, ela nasce como um edifício pronto e acabado, como uma fábrica montada, mas funcionalmente imatura.
Criança tem cólica? Tem. A cólica é uma onda peristáltica que em vez de fluir adequadamente até o final do intestino delgado, encontra uma área em que existe um espasmo e a criança sente dor.

Drauzio – Como se percebe que a criança está chorando porque tem cólica?


Anranik Manissadjian – Existem ene causas para o choro da criança e a mãe acaba entendendo pelo tom o que o filho está querendo transmitir. A criança chora de fome, chora de sede, chora porque está agasalhada demais e nesse caso também transpira; chora porque está mal agasalhada, porque urinou ou evacuou e as fraldas estão sujas ou molhadas, ou porque quer arrotar. Até chegar ao choro por causa da cólica, existe um caminho longo em que a mãe vai paulatinamente decifrando o significado de cada choro, à medida que se entrosa melhor com o filho recém-nascido.

Muitas dizem que a cólica aparece com hora marcada. A partir das seis da tarde, a criança começa a chorar. É verdade, mas antes de chegar a essa conclusão, ela precisa verificar se o bebê está com fome, com sede, se fez xixi ou cocô ou se quer arrotar.
Normalmente, a maturação funcional começa logo após o nascimento.  No caso do sistema nervoso, vai até a adolescência, algumas vezes uma adolescência sem fim, porque conheço muitos adolescentes com 50 ou 60 anos. A funcionalidade do aparelho respiratório, por exemplo, termina aos sete anos; a maturação do sistema circulatório, logo após o nascimento, mas a do sistema digestivo leva mais tempo e as cólicas acabam sumindo no segundo semestre da vida da criança.

Quando a criança tem cólicas, as mães costumam colocar bolsa de água quente, passar óleo e fazer massagem no abdômen, dar chá de chicória. Nós, médicos, ficamos em palpos de aranha, essa é a realidade. Pode-se prescrever antiespasmódico. Quando ele não dá resultado, receito paracetamol ou dipirona, mas às vezes somos obrigados a dar barbitúricos (fenobarbital), porque a cólica pode estar associada a uma pequena disfunção cerebral. Outras vezes, só nos resta recorrer aos diazepínicos para acalmar a cólica e só a vivência vai indicar o método mais adequado para tratar cada caso.

Drauzio – E em relação ao refluxo, o que se deve fazer?

Antranik Manissadjian – Em relação ao refluxo, assunto que está em moda ultimamente, é preciso analisar como está sendo feita a amamentação para depois ministrar remédios antirrefluxo. Costumo orientar as mães no sentido de que devem procurar uma posição confortável para amamentar, pois vão ficar bom tempo sentadas, e descobrir qual a melhor posição para a criança, pois assim engolirá menos ar, já que por si o ato da sucção favorece a deglutição de ar junto com o leite.

Se a criança estiver sendo alimentada com mamadeira, deve-se prestar atenção no tipo de bico usado. Ele deve ser mole (os duros exigem maior esforço físico, a criança se cansa e acaba dormindo) e ter o orifício adequado para que o leite verta com facilidade. Bicos que já vêm com o furo pronto frequentemente precisam de adaptações. Principalmente, ao oferecer o complemento em mamadeira, a mãe não deve permitir que haja nível de ar com o leite. A ingestão de ar distende o estômago, provoca dor e faz, muitas vezes, com que a criança regurgite.
Outra medida necessária é colocar a criança para arrotar depois que mamou durante dez minutos. Se não arrotou, deve-se deitá-la sobre um dos lados, direito ou esquerdo, ou mesmo de bruços, mas nunca de costas porque o gás empurra e põe para fora o leite que encontra pela frente, passando a sensação de que ela vomitou, porque vai regurgitar de maneira intensa.
Por isso me questiono a respeito do refluxo, se de fato os casos aumentaram ou se é falha na orientação dos pediatras quanto ao procedimento correto em relação ao ato de amamentar. Antes de fazer o diagnóstico de refluxo, é preciso avaliar as condições que cercam a amamentação para evitar que a criança receba desnecessariamente uma parafernália de medicamentos, como esvaziadores mais rápidos de estômago, antiácidos, antiespasmódicos, etc.

HIGIENE

Drauzio – Existe uma discordância quanto ao momento em que deve ser dado o primeiro banho na criança. Qual sua posição a respeito?

Antranik Manissadjian – Atualmente, na maior parte das maternidades, o primeiro banho é dado logo depois de a criança ter nascido. Se ela se encontra em condições normais, após a identificação, toma banho.
Entretanto, as mães de primeiro filho precisam ser orientadas sobre como devem proceder em casa. Nisso, as avós ajudam muito. Não é preciso esperar a queda do coto umbilical. Quando for dar banho, a mãe deve deixar à mão uma toalha felpuda, uma fralda de pano que cubra parcialmente a toalha, pois absorve mais rapidamente a água do corpo e um sabonete.

Drauzio – Algum tipo especial de sabonete?

Antranik Manissadjian – O sabonete que você e eu usamos, um sabonete de adulto, e nada de xampus. A criança deve ser lavada normalmente e enxaguada com água limpa, cabeça e tronco, coisa que a maior parte das mães não faz.
Segue-se, então, uma série de recomendações a respeito de coisas que nós adultos fazemos habitualmente, mas que as crianças ainda não têm condições para assumir. Portanto, a mãe deve enxugar bem os ouvidos do bebê, mas com cuidado para não penetrar no canal auditivo.

Drauzio – O senhor recomenda o uso de cotonetes?

Antranik Manissadjian – O cotonete até pode ser usado, mas a fralda ou a toalha são suficientes para enxugar o pavilhão de orelha. Não se deve introduzir nada para secar os ouvidos.  Há casos de perfuração da membrana do tímpano por causa de um movimento brusco e imprevisível da criança durante a limpeza dos ouvidos. Como se vê a prevenção de acidentes começa desde o nascimento.
Depois, vem a limpeza da boca. Recomendo que seja feita com água bicarbonatada que pode ser preparada em casa. Basta adicionar a meio copo de água uma colher de chá de bicarbonato de sódio usado na cozinha. A mãe pode ter receio de passar essa solução com um chumaço de algodão cobrindo seu dedo ou com a ponta de um cotonete recoberta com algodão. Nesse caso, deve deixar a criança chupar (ela chupa por reflexo) por duas ou três vezes para que tenha um pH desfavorável ao crescimento de fungos.

Drauzio – Como o senhor orienta a higiene dos genitais?

Antranik Manissadjian – O genital dos meninos nunca deve ser forçado porque existe a fimose fisiológica que se resolve espontaneamente até o final do primeiro ano. Por isso, não sou favorável à postectomia precoce.
No que se refere às meninas, a mãe deve limpar não apenas a área genital, mas também o espaço entre os pequenos e os grandes lábios sempre tendo o cuidado de fazer a higiene da frente para trás, isto é, na direção do ânus. Nunca no sentido contrário para não contaminar a vagina com as bactérias que normalmente existem no ânus.

Drauzio – O senhor poderia explicar o que é postectomia?

Antranik Manissadjian – Postectomia, também chamada de circuncisão ou cirurgia de fimose, é a retirada do prepúcio. Se feita por motivo religioso, respeito; mas fazê-la para evitar um problema que talvez possa ocorrer mais tarde, é discutível.

É bom deixar a natureza seguir seu caminho. Nada no corpo humano existe sem motivo e o prepúcio tem sua razão de ser. Ele está ali para proteger o meato uretral, o orifício por onde sai a urina. Tanto é assim que uma parte das crianças circuncidadas desenvolve estenose de meato uretral e precisam ser submetidas a cirurgias para alargamento. Isso para não falar nas consequências deletérias da não fluidez adequada da urina durante a micção.

Drauzio – Vamos explicar o que é estenose do meato uretral.

Antranik Manissadjian - Estenose do meato uretral é o estreitamento do orifício que se localiza na glande, isto é, na ponta do pênis. Nas crianças circuncidadas, o contato com fezes e urina provoca uma irritação que paulatinamente leva à diminuição dessa fenda, o que dificulta a micção normal.

Drauzio – Existe ainda alguma outra informação que vale a pena destacar? 

Antranik Manissadjian - Existe o que se chama de crise pubertária que, no sexo masculino, é caracterizada por tumefação dos seios, inclusive com formação e excreção láctea. No sexo feminino, além disso, há uma perda hemorrágica pelos genitais.

Trata-se de um episódio absolutamente normal, sem nenhum significado patológico e não deve afligir as mães de primeira viagem. Muitas avós já viram esse fenômeno que pode ocorrer nos primeiros quinze dias ou, no máximo, nas primeiras três semanas de vida e reflete o excesso da ação dos hormônios transmitidos pela mãe sobre esses órgãos da criança.

Drauzio – O senhor acha que sabonetes, xampus e demais produtos de toucador especiais para crianças não devem ser usados? 

Antranik Manissadjian – Não aconselho o uso de produtos de toucador infantis, como sabonetes, talcos, xampus ditos especiais para as crianças. Recomendo que a roupa pessoal da criança seja lavada apenas com água e sabão de coco em barra e que não sejam usados nem sabão de coco líquido ou em pó nem os amaciantes, porque podem provocar reações cutâneas irritativas terríveis que pioram com a aplicação de pomadas com corticoides. Tenho observado essas lesões não somente em crianças recém-nascidas, mas em crianças de qualquer idade e nos adultos também e que elas desaparecem quando esses produtos deixam de ser empregados na lavagem das roupas.

Drauzio – O senhor é contra ou a favor do uso de talco? 

Antranik Manissadjian – Contra assaduras, sou mais a favor ao uso preventivo de pomadas protetoras, que normalmente mando as mães diluírem com óleo de milho ou girassol, aqueles mesmos usados na cozinha, até que fiquem bastante fluidas, porque muitas aderem de tal maneira à pele que exigem muitas lavadas para sair completamente. O uso profilático dessas pomadas traz melhor resultado do que o tratamento após a implantação da assadura.

ROUPAS

Drauzio – As mulheres brasileiras costumam embrulhar as crianças com xales e cobertores, embora a maioria viva em regiões de clima mais ameno. Que critério elas devem adotar para vestir suas crianças?

Antranik Manissadjian – As mães não devem basear-se na temperatura das mãos e dos pés das crianças quando forem vesti-las. Mãos e pés de bebês são normalmente frios, porque a circulação venosa é mais lenta. Luvinhas, por exemplo, não ajudam a aquecer as mãos da criança que deve ser vestida de acordo com a sensação térmica da mãe. Se ela está com frio, deve pôr roupas mais quentes no bebê e não deve agasalhá-lo, se está sentido calor.
Outra recomendação que faço é que as roupas devem ser simples. Às vezes, a vaidade materna chega a tal ponto que vestem suas crianças como verdadeiras bonecas, embora nem sempre com roupas confortáveis.

PASSEIOS

Drauzio – Quando o bebê pode ser levado para passear?

Antranik Manissadjian – Às vezes, mães de crianças com dois ou três meses me perguntam se podem levá-las ao shopping para passear. Eu lhes digo que primeiro é preciso desenvolver sua resistência por meio da vacinação. No shopping, vão entrar em contato com um mundo onde existem vírus e bactérias que não sabemos quais são.

Drauzio – O senhor recomenda que a criança seja retirada de casa com que idade?

Antranik Manissadjian – Quanto mais a criança recém-nascida ficar calma e tranquila no seu canto, melhor. No começo, ela não deve ser retirada de casa exceto para ir à casa dos avós paternos ou maternos. Para se expor a outros ambientes, deve estar vacinada pelo menos com a primeira dose das diferentes vacinas.

Drauzio – Isso costuma ocorrer com que idade?

Antranik Manissadjian – O Ministério da Saúde recomenda que seja aplicada a vacina contra hepatite B e a BCG logo nos primeiros dias de vida. Minha conduta é um pouco diferente. Como hoje os pediatras fazem o papel de clínico geral ou do médico de família, sabemos muito bem quais são os problemas de saúde que existem em determinado grupo familiar, inclusive o uso de drogas pelos pais.
Se eles não existem, prefiro que a criança inicie seu desenvolvimento mais tranquilamente; por isso, começo a vacinar a partir do segundo mês. E aí, é uma batelada de vacinas: hepatite B, difteria, coqueluche, tétano, meningite A e C, hemófilos B e antipneumocócica. O BCG reservo para após o quarto mês porque deve haver um intervalo de dois meses entre uma aplicação e outra. A partir da primeira dose de vacina, a criança pode sair, viajar, ir para a fazenda, etc.

AMBIENTE FAVORÁVEL 

Drauzio – Em relação aos estímulos externos, o que é mais adequado para a criança? 

Antranik Manissadjian – A criança tem que se adaptar ao ambiente em que vai viver. Entretanto, nos primeiros 40, 60 dias é bom que tenha tranquilidade em seu quarto, mas não na penumbra e, sim, com luminosidade, ou seja, deixando a luz do dia e também os ruídos da casa entrarem.
Nesse período, muitas mães oferecem estímulos visuais para a criança, colocando no berço objetos coloridos e sonoros que chamem sua atenção. Obviamente, pessoas de poucos recursos têm mais dificuldade de dar esse tipo de atendimento para os filhos.

Drauzio – Nos primeiros dias, a criança deve ficar em seu quarto sozinha ou no quarto dos pais? 

Antranik Manissadjian - Acho prudente não deixar a criança sozinha pelo menos nos primeiros 30 ou 40 dias de vida, porque ela pode regurgitar e aspirar o vômito, por exemplo. Como existem casos de morte súbita em crianças pequenas e, às vezes, até em crianças um pouco maiores, considero prudente que, no início, a criança fique em seu quarto com acompanhante ou no quarto dos pais.

Drauzio – Em que posição a criança deve ser colocada no berço?

Antranik Manissadjian – Recomendo que seja sempre colocada no berço em posição lateral, com um travesseiro que sirva de calço para impedir que vire. Pode ainda ser deitada de bruços, mas não constantemente porque essa posição favorece a abertura da articulação coxofemoral e a criança acaba ficando com pernas como as do Carlitos.


A meu ver, portanto, a criança nunca deve ser colocada de costas por causa do perigo que a regurgitação e a aspiração do vômito representam.

RELAÇÕES SOCIAIS

Drauzio – E o relacionamento dos pais com o filho pequeno como deve ser? Muitos evitam até chegar muito perto com medo de transmitir algum vírus ou bactéria para a criança.

 Antranik Manissadjian – O contato maior da criança tem que ser com a mãe. A telepatia mãe/filho realmente existe. Ela deve conversar com ele, cantar porque isso de alguma forma representa um estímulo para seu desenvolvimento auditivo e visual. O pai também pode carregá-lo sem problemas. Agora, não recomendo que criança pequena vá para o colo de pessoas estranhas. Apesar do carinho e da atenção que a visita dispensa, ela vem de fora e pode representar uma fonte de contaminação.
Portanto, os familiares podem e devem pegar as crianças, mas sem exageros. Elas são extremamente espertas e logo descobrem como comandar a situação. Criança acostumada no colo acaba montando a cavalo nos familiares. Ouço com frequência os pais dizerem que a criança está aos berros, mas sossega quando a pegam no colo. A educação da criança começa antes e continua após o nascimento. Todos nós conhecemos crianças birrentas, porque foram supermimadas nos primeiros meses e anos de vida.
Faz parte também da educação, a mãe aprender a respeitar o paladar e o apetite da criança. Deve fazer com que ela se alimente da melhor maneira possível, sem entrar em conflito porque acha que come mal e pouco.

 

Fonte: www.drauziovarella.com.br

                 

Ler 1912 vezes Última modificação em Sábado, 27 Dezembro 2014 17:20

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