Sexta, 19 Dezembro 2014 10:54

PRIMEIROS CUIDADOS COM O BEBÊ- PARTE 1

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PRIMEIROS CUIDADOS COM O BEBÊ - Parte 1

 

Dr. Antranik Manissadjian é médico pediatra com 55 anos de experiência e professor de grande número de profissionais que se especializaram nessa área.

Durante nove meses as mulheres se preparam para a chegada de um bebê. São roupinhas, berço, a escolha da maternidade e do nome.

Parece que tudo está em ordem à espera que ele dê os ares de sua graça. Quando a criança nasce, porém, é sempre uma confusão em casa, especialmente se os pais são marinheiros de primeira viagem.
Horários das mamadas e do sono, o choro, as visitas, a ocasião adequada para um passeio, os banhos de sol, tudo é motivo de dúvidas e preocupações.
Será que meu filho dorme demais? Está com fome? Chora de cólica ou porque quer companhia? São tantas as perguntas e tão pouca a experiência quando se trata especialmente do primeiro filho. Nesses momentos, aparecem as avós para socorrer as mães que têm medo até de segurar a criança.

Cuidar de um bebê não é um bicho de sete cabeças. Há uma telepatia indiscutível entre mãe e filho que a faz entender seu choro e necessidades. A mãe não deve esquecer, porém, que a educação de uma criança deve começar antes mesmo de ela nascer.

PAPEL DAS AVÓS

Drauzio – Esse conhecimento que as avós trazem para casa do bebê tem grande importância prática, mas muitas vezes estão baseados em mitos. Qual sua visão a respeito do assunto? 

Antranik Manissadjian – No que se refere aos primeiros cuidados com a criança recém-nascida, ao ajudar as filhas ou noras, as avós desempenham um papel importante e imprescindível. Não são mitos que transmitem. É o acúmulo de experiência que vem de longa data. Inclusive, a orientação que dou às mães de primeiro filho em relação aos cuidados com o bebê recém-nascido é fruto da análise que fiz da vivência e experiência de avós que me chamaram atenção.
Essa orientação se divide em alguns tópicos. O primeiro diz respeito à alimentação das crianças. O segundo, aos cuidados com a própria mãe e o terceiro, aos cuidados gerais que subdivido em higiênicos e emergenciais.

ALIMENTAÇÃO

Drauzio – Vamos começar pelos cuidados com a alimentação.

Antranik Manissadjian – A primeira pergunta que as mães sempre fazem é qual o horário em que as crianças devem ser alimentadas. Respondo que não há um horário rígido. O intervalo entre uma mamada e outra pode variar de duas horas e meia a quatro horas.

Estudos realizados por suecos, que analisaram o esvaziamento do estômago dos recém-nascidos, comprovam que realmente o estômago se esvazia no mínimo em duas horas e meia e, no máximo, em quatro horas, desde que essas crianças tenham se nutrido satisfatoriamente na refeição anterior.
Nos primeiros 60 ou 90 dias de vida, o bebê mantém esse ritmo dia e noite. As mamadas noturnas serão abandonadas espontânea e voluntariamente quando estiverem satisfeitas suas necessidades de crescimento e desenvolvimento.

Drauzio – Muitas mães se assustam com o tempo que a criança passa dormindo. Não sabem se devem acordá-la ou deixá-la dormir.

Antranik Manissadjian – Realmente, crianças recém-nascidas dormem mais tempo do que ficam acordadas. Elas passam dormindo praticamente 90% do tempo. Nos 10% restantes, estão acordadas em função da alimentação. À medida que crescem, porém, os períodos de sono vão encurtando até atingir ritmo normal que se estabelece em torno dos seis ou sete meses de idade, algumas mais precocemente, outras mais tardiamente, porque isso é uma característica da espécie humana. O ser humano não é uma máquina. Cada pessoa é absolutamente diferente da outra. Mesmo em gêmeos univitelinos, observa-se esse fenômeno.
As mães me perguntam, então, como devem alimentar sua criança. Respeitado esse horário flexível, o aleitamento materno é a melhor forma de alimentá-la desde que tenha leite suficiente para fazê-lo. Se não tiver, o aleitamento materno deve ser complementado com o leite que o pediatra que acompanha a criança selecionar.

Drauzio – Hoje existe a tendência de não dar mamadeira nem chupeta para as crianças. A justificativa é que sugar na mamadeira exige menos esforço e faz com que abandonem o peito materno. O senhor pegou uma época em que se costumava complementar o peito com chá ou água nas mamadeiras. Como vê essa mudança de conduta? 

Antranik Manissadjian – É uma mudança de conduta que atribuo em grande parte ao modismo. Digo isso porque existe uma campanha acirrada no sentido de incentivar o aleitamento materno, que não depende da vontade de quem amamenta, mas de uma série de fatores emocionais e fisiológicos que fazem a mãe ter mais ou menos leite.
O importante é saber distinguir os fatos a fim de que essa conduta não venha a prejudicar a criança num período de crescimento e desenvolvimento intensos, característica fundamental dos primeiros seis meses de vida, e que não venha a prejudicar, principalmente, a maturação do sistema nervoso que se inicia logo após o nascimento e termina na adolescência.
A célula nervosa tem de estar muito bem nutrida, ou seja, recendo os nutrientes adequados para que a criança não apresente problemas de inteligência, de emoção, etc. É claro que há fatores genéticos envolvidos e que não se pode prever nem predizer quando estará firmado o equilíbrio mental das pessoas. Sabe-se, entretanto, que isso corre na infância ou mais frequentemente na adolescência.

Drauzio – Se a mulher tiver leite suficiente para atender as necessidades da criança nos primeiros meses de vida, não precisa oferecer-lhe outro tipo de a

Antranik Manissadjian – Não há necessidade de complementar o leite materno com outro tipo de leite se a mãe possuir o suficiente para alimentar a criança. No entanto, embora vivamos num país em que a luminosidade é tão intensa que pode atender até certo ponto a carência de vitamina D, acho importante dar um aporte vitamínico, especialmente dessa vitamina, e também introduzir sucos de frutas a partir do segundo mês não só para aumentar a oferta de vitamina C, como para favorecer a maturação mais rápida da mucosa intestinal.
Atualmente, existe a tendência de introduzir a alimentação sólida tardiamente, a partir do sexto mês. Na realidade, isso pode ser justificado nas camadas mais pobres da população em que o aleitamento materno representa certa garantia de alimentação para a criança, mas não se justifica quanto ao retardo da maturação da mucosa intestinal nem ao atraso no desenvolvimento do maciço bucomaxilofacial.


Você se referiu também ao uso ou não de chupetas. Os americanos chamam chupeta de pacifier. Se será realmente um pacificador, depende muito da própria criança. Há a que pega chupeta e a que não pega. Há a que não pega, mas chupa o dedo.
Pode-se dizer, então, que a chupeta responde a uma necessidade emocional da criança e faz parte da fase oral de seu desenvolvimento neuropsicomotor.
Num ponto os ortodontistas discordam dos pediatras em relação ao uso da chupeta. Eles afirmam que ela pode provocar um avanço da arcada dentária superior e uma inadequação da mordedura entre as duas arcadas no futuro, o que exigiria a indicação de aparelhos ortodônticos para corrigir o problema.

Drauzio – A Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde no Brasil adotam a política de que toda mãe deve amamentar seu filho exclusivamente no peito até o sexto mês e só a partir de então deve oferecer-lhe sopinhas, suco de frutas, etc. O senhor pessoalmente concorda com essa visão?

Antranik Manissadjian – Minha visão pessoal está baseada num micromundo, por assim dizer. Dentro do macromundo e do macroatendimento de saúde, levando em consideração o grau de instrução de nosso povo e as dificuldades para a aquisição de alimentos que, às vezes, são retirados da boca de outras crianças da família para serem dados aos bebês, a visão é correta.

Tenho a impressão inclusive de que essa conduta do Ministério foi norteada pela constatação de que há casos de atrofia cerebral observados em crianças com desnutrição grave ou média, uma vez que não foram alimentadas adequadamente durante o período mais importante de crescimento e maturação do sistema nervoso.

Numa política macro e em função da classe social e do grau de instrução das mães, é extremamente válida a insistência do Ministério da Saúde na exclusividade do aleitamento materno até os seis meses.

Drauzio – Muitas mulheres se queixam de que o leite é fraco – ah, meu leite é fraco! – e deixam de amamentar os bebês. O leite pode mesmo ser fraco?

Antranik Manissadjian – Não existe leite fraco. Ou existe leite suficiente para atender as necessidades calóricas, proteicas, lipídicas, hidrocarbonadas e assegurar o crescimento e o desenvolvimento da criança ou não há leite suficiente. Leite fraco foi uma concepção criada para justificar aquilo que ocorre quando o bebê não se alimenta como deveria. Nesse caso, o intervalo entre as mamadas diminui e ele começa a chorar uma hora, meia hora depois de ter mamado no seio.
A mãe pode possuir condições fisiológicas excelentes para a formação de leite ou não ter aleitamento suficiente para as necessidades daquela criança, porque variam muito de uma criança para a outra. Tanto assim, que não adianta a mãe alimentar-se excessivamente pensando que dessa forma vai aumentar a secreção láctea. Não aumenta. A única coisa que acontece nessas circunstâncias é que ela vai ganhar peso e depois ficar aborrecida porque não consegue perder esses quilos a mais.
Na verdade, a mãe que amamenta sente mais sede porque o leite materno, como qualquer outro, é constituído aproximadamente por 90% de água. Ela precisa, então, saciar essa sede, bebendo água, leite ou qualquer outro líquido que lhe apeteça. Antigamente, se dizia que era bom tomar cerveja preta. Isso não faz a menor diferença quanto à composição ou aumento do leite materno.

Drauzio – Isso quer dizer que não existem alimentos nem líquidos que deixem o leite materno mais forte.

Antranik Manissadjian – Não existem alimentos que possam deixar o leite mais forte ou inadequado. Apesar da crença de que, se as mães ingerirem alimentos apimentados ou muito condimentados irão agravar as crises de cólica da criança, nunca observei tal resultado, tanto que lhes digo para comerem de acordo com seu apetite, com suas preferências alimentares.  O principal é que saciem a sede e não fumem.

Se por acaso forem muito dependentes do tabaco, que pelo menos diminuam drasticamente a quantidade de cigarros fumados por dia, porque a nicotina passa para a criança através do leite. Se o fumo traz problemas durante a gravidez, pois filhos de mães fumantes nascem menores e com peso mais baixo, traz também depois do nascimento.
E não é apenas o fumo. Certos medicamentos, como os anti-inflamatórios não hormonais e os remédios para emagrecer que agem sobre a tireoide, passam através do leite. Por isso, se necessário, em caso de dor as mães devem tomar antiálgicos como aspirina ou paracetamol, ou então dipirona.

Drauzio – E quanto a mamar num seio só ou oferecer os dois seios em cada mamada? Hoje se diz que a mulher deve dar um seio só em cada mamada, porque o leite que sai no final tem maior teor de gordura e, portanto, maior conteúdo calórico. 

Antranik Manissadjian – Não sei se existem estudos científicos comprovando que oferecer um único seio em cada mamada seja mais vantajoso para a criança. Aprendi e tenho verificado que a amamentação nos dois seios, alternando o lado em que se inicia e durante no máximo 15 ou 20 minutos de cada lado ou até ter a sensação de esvaziamento, faz com que o estímulo da sucção esteja presente nos dois seios em todas as mamadas. Além disso, tenho visto crianças amamentadas num único seio fazerem intervalo menor entre as mamadas, o que pode significar que não foram alimentadas suficiente e adequadamente.
Assim, oriento as mães para que deem os dois seios, oferecendo primeiro o que deu por último na mamada anterior, e deixem a criança mamar enquanto tiverem a sensação de que ela está realmente sugando ou de esvaziamento do seio, tempo que não deve ultrapassar 15 ou 20 minutos em cada lado.

 

Fonte:www.drauziovarela.com.br

Ler 1487 vezes Última modificação em Segunda, 22 Dezembro 2014 15:53

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