Sábado, 19 Outubro 2024 22:02

CULPA

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CULPA

“Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram…" (Ez 18.2b)

Considerando a narrativa do livro na primeira pessoa, tem-se que o profeta Ezequiel foi o autor do livro que leva o seu nome. A história mostra que Ezequiel fazia parte de uma família sacerdotal e foi conduzido cativo pelo rei Nabucodonosor quando os caldeus invadiram Jerusalém e levaram não só o rei Joaquim, mas todos os integrantes da família real e os cidadãos mais habilidosos (2 Rs 24.10-16). Ezequiel permaneceu em terras Babilônicas e lá ele profetizou aos seus compatriotas.

Contextualizando essa passagem, tem-se que ela está inserida numa grande narrativa do profeta abordando a justiça de Deus e a responsabilidade individual das pessoas diante das transgressões contra o próprio Deus. A responsabilidade e a culpa eram assuntos que incomodavam bastante os judeus que estavam em terras estranhas (Ez 18).

Abordar a responsabilidade individual frente às transgressões tem sido um tema que gera incômodos de toda ordem. Punir alguém por um erro cometido por outra pessoa é no mínimo falta de bom senso. Afinal, a palavra de Deus diz que com ele não se brinca, pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará (Gl 6.7).

Naquela época, havia um ditado ou um provérbio em Israel falando que os dentes dos filhos estavam sensíveis porque os pais comeram uvas verdes, ou seja, os filhos foram punidos por erros de seus pais. E era esse o questionamento dos judeus que estavam na condição de escravos na Babilônia. Essa situação era questionada por todos aqueles que não cometeram nenhum ato de desobediência contra Deus e estavam ali cumprindo uma pena. Ou seja, eles indagavam criticamente sobre a visão de que o juízo que eles estavam sofrendo era resultado dos pecados da geração passada, quando alguns deles, nem vivos estavam. Pense!

Considere que toda pessoa é dona de seu próprio destino e sabedora dessa verdade não restam dúvidas sobre a responsabilidade individual pelas suas próprias ações. Assim, o que se percebe é que muitos dizem por aí que Deus derrama sobre os filhos as consequências dos pecados dos pais, todavia, a palavra diz que se um filho de pai infiel e desobediente ver as obras perversas de seu pai, mas temer a Deus e caminhar sua presença nada daquilo que o seu pai fizer virá sobre ele como efeito do pecado paterno. Foi justamente isso que o profeta Ezequiel discursou em sua mensagem ao povo de Israel daquele período citando instruções de Moisés (Dt 24.16). A culpa é individual e intransferível!

Na época do profeta Ezequiel, grande parte dos integrantes da nação israelita tinha sido deportada na condição de servos para as terras da Babilônia e aqueles judeus que estavam agora na condição de escravos, se queixavam dizendo exatamente o ditado das uvas verdes (Ez 18.2b). Achavam eles que era injusto que estivessem pagando pelo pecado da idolatria dos seus pais. Comparativamente, seria caso do pai ingerir bebidas alcóolicas e os filhos sofrerem com os efeitos do álcool. E foi por meio do profeta Ezequiel, que Deus afirmou que a responsabilidade é pessoal e individualizada (Ez 18.4b, 20). Reflita!

“Sabendo que não foi por ouro nem prata, que fostes resgatados do vosso fútil comportamento que vossos pais vos legaram”. (1 Pe 1.18). Traga isso para os dias atuais e entenda a obra de Jesus feita na cruz do calvário rompe o ciclo de comportamentos e atitudes familiares, trazendo a libertação a todos os que por meio da fé, compreendem que estão livres de quaisquer sentenças do passado, inclusive de seus antepassados. Noutras palavras, o cristão de hoje, regenerado, selado pelo sangue do cordeiro, tem seus laços rompidos com o passado, inclusive com todas as implicações espirituais da vida errada dos seus antepassados, pois, arrependido, ele veio a Cristo com fé. Não tem nenhuma lógica entender que o sacrifício de Jesus atua pelas metades ou que para uns funciona e para outros não vale nada!

Pendurado na cruz, Jesus reconheceu a fé de um ladrão e em nenhum instante indagou sobre o seu passado. Quebrantado, arrependido, ele ganhou sua salvação por um ato de fé. Falar e apregoar o sacrifício de Jesus sem processar perfeitamente os efeitos da justiça de Deus é simplesmente minimizar os perfeitos benefícios da cruz. Cristo não morreu em vão! Considere que toda e quaisquer condenação que pesava sobre a humanidade foi tirada totalmente quando Cristo se sacrificou. Noutras palavras, a humanidade tinha uma dívida com Deus e ela foi quitada na sua totalidade por Jesus (Cl 2.13-15; Gl 3.13). Se o sacrifício de Jesus foi eficaz, eficiente e suficiente para livrar o homem, porquanto pecador da maldição da lei dada por Deus, imagina se não seria sobre os pecados e pactos do passado?

Portanto, entendo que sentenciar alguém por um erro do outro, seria uma injustiça e Deus é praticante da reta justiça. Embora existam outros entendimentos, inclusive este escriba os respeita, o sentido aqui não é criar polêmicas, mas a responsabilidade é de quem praticou a transgressão e isso foi apresentado desde Moisés, quando ele estabeleceu a lei (Dt 24.16), corroborando com a narrativa do autor do livro de Samuel, em um episódio envolvendo vingança (2 Rs 14.6). O próprio profeta complementa sobre a responsabilidade: “O pai não levará a iniquidade dos filhos, nem os filhos a iniquidade dos pais” (Ez 18.20). Cada um deverá responder diante de Deus pelas decisões assumidas e pelos atos praticados. Importante entender que ser cristão não é uma questão de DNA ou hereditariedade, mas é necessário que cada homem assuma sua posição, mantendo continuamente uma vida de temor e reverência diante de Deus. Resumindo, o desejo de Deus é que o perverso se converta dos seus caminhos errados por meio do arrependimento e confissão e assim, que ele viva, pois nenhuma culpa das iniquidades de seus antepassados recairá sobre ele (Ez 18.19-23). Abraço grande

Jesus Cristo Filho de Deus os abençoe,

 

Milton Marques de Oliveira - Pr

 

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