Quarta, 22 Março 2017 12:15

BARREIRAS

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BARREIRAS

“Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles, e a seus filhos para sempre! ”(Dt 5.29) 

O livro de Deuteronômio, escrito pelo profeta Moisés, traz de maneira simples e objetiva uma revisão da história de Israel, recordando àqueles israelitas que nasceram no período da peregrinação do Egito para Canaã e que não presenciaram as incontáveis realizações do Senhor. O livro mostra também toda a inflexibilidade da lei mosaica, notadamente quanto às frases “farás isso” e “não farás aquilo”.

Muito aplicada em nossos dias, essa inflexibilidade de “isso farás e isso não farás”, tem se tornado uma característica marcante na vida de muitas pessoas, que com medo das consequências advindas pela realização ou não realização de determinados atos, acreditam que serão severamente punidas com a perda da salvação e vida eterna, concedida por meio do sacrifício único de Jesus Cristo, caso desobedeçam.

Veja a importância em contextualizar os escritos bíblicos em sua época, sua cultura e seus destinatários. Partindo desse entendimento, muitos dos registros bíblicos, ora são aplicáveis e ora não são aplicáveis aos nossos dias. Alguns criam e aplicam regras e normas que sequer existem nos apontamentos da bíblia, ou seja, são meros preceitos humanos que acabam se tornando ritos, hábitos e costumes que vão passando de pessoas para pessoas, até que se transformam em rígidas normas.

No versículo em destaque tem-se a manifestação de Deus em relação aos israelitas, que aculturados pela vida de escravos no Egito, somente sabiam “fazer e não fazer”. Como escravos, estavam condicionados a fazer e obedecer às ordens e isso era imposição egípcia, nação que os escravizou por longos anos. Todavia, agora livres da escravidão, vivendo em suas próprias terras (Canaã) e servindo ao Senhor, era natural que Deus postulasse que os israelitas criassem temor no coração.

Percebe-se um grande anseio das pessoas em se aproximarem de Jesus, entretanto, logo após aceitarem Cristo, elas enfrentam muitas dificuldades ordenadas pelas tradições humanas, para fazer ou deixar de fazer alguma coisa.  Parece haver uma exigência muito grande de mudança exterior, quando na verdade a mudança e transformação deve ocorrer no coração. Essa mudança interior recebe o nome de regeneração ou novo nascimento espiritual, e é o início da busca pelas coisas divinas, a busca por uma vida de separação das práticas mundanas para uma vida de realizações de fé e santidade.

O Apóstolo Paulo ensinou à comunidade cristã na cidade de Colossos, que eles deveriam ter extremo cuidado para que ninguém os escravizasse com vãs e enganosas filosofias que se fundamentavam simplesmente nas tradições humanas, e não em Cristo (Cl 2.8).  Paulo enfatizava a necessidade de eles entenderem a Palavra de Deus, compreendendo com o espírito e não por meio de influências de mentes alheias. Ele pregava isso, chamando a atenção da comunidade para a importância de reconhecer e se livrar de cargas e jugos que os aprisionavam, e livres, passassem a viver uma experiência de plenitude espiritual com Cristo e em Cristo.

Séculos antes do apóstolo Paulo, o profeta Joel discursava uma mensagem muito clara e direta ao povo de Israel: “rasgai o vosso coração e não as vossas vestes...” (Jl 2.13). Era e continua sendo uma mensagem para mudança de entendimento, uma mudança de pensamento e de transformação interna do coração e nas mentes. Na visão do profeta Joel, Deus não requisitava ritual, formalidades e nem tampouco hábitos tradicionais que indicavam medo exterior de Deus. Já naquela época, rituais e costumes culturais eram desnecessários e de nada valiam aos olhos de Deus, e essa era a advertência que o profeta Joel fazia aos seus compatriotas. Nas mínimas adversidades aquele povo rasgava suas roupas e se cobriam de cinzas acreditando que estes rituais iriam substituir o arrependimento genuíno e puro ao Senhor. O rei Davi também já enxergava a importância de um coração voltado a Deus, em detrimento das formalidades exteriores, e deixou isso registrado nos Salmos, quando se expressou: “o sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17).

O apóstolo Paulo foi discípulo de Gamaliel, um doutor da lei. Era um implacável perseguidor dos primeiros cristãos, extremado fariseu e certamente um profundo conhecedor das formalidades e dos rituais judaicos. Este mesmo Paulo compreendeu mais tarde, por meio do Espírito Santo que o mérito e os rituais nada acrescentariam no processo de salvação (Ef 2.8-9). Paulo enfatizou que o cristão morreu com Cristo para as tradições humanas e não poderia e nem deveria se sujeitar a ordenanças como se pertencesse a um sistema de valores meritocráticos (Cl 2.20). Paulo ensinou ainda que estes regulamentos até - no sentido de alcance -, possuíam alguma aparente sabedoria, mas não tinham nenhum valor senão para a satisfação da carne, de quem o apregoava (Cl 2.23). Reflita nisso!

Romper as tradições e caminhar em um novo entendimento é o ensinamento de Cristo, registrado nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Em Mateus, Jesus desafia Pedro a sair da segurança do barco e viver a fé que ELE ensinava (Mt 14.28-29). Era preciso que Pedro rompesse a barreira que o separava do novo entendimento chamado fé. Em Lucas, o ensino de Jesus aponta para novos vinhos e novas roupas que não se harmonizam com odres velhos e roupas velhas, respectivamente (Lc 5.36-39).

O evangelho exige de quem crê uma nova postura. Em vez de obrigatoriedade, ritos e práticas exteriores e vazias, o evangelho concede paz e liberdade em Cristo. Creia nisso!

Jesus Cristo Filho de Deus os abençoe, sempre!

 

Milton Marques de Oliveira - Pr

 

 

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