Segunda, 14 Outubro 2019 20:38

DESPREZO

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DESPREZO

“Aquele que teve misericórdia dele”.(Lc 10.37)

 

Lucas escreveu o terceiro evangelho e também o livro de Atos dos Apóstolos. Em sua narrativa Lucas emprega palavras que não eram comuns aos judeus, ele usa a palavra “advogado” e não escriba, usa “mestre” e não rabino. Isso sugere que seu evangelho não foi dirigido ao povo de Israel, mas aos gregos e de maneira particular foi endereçado a um homem identificado por Teófilo, certamente um conhecido de Lucas que procurava saber mais sobre Cristo (Lc 1.3).

O contexto da passagem acima está dentro da parábola sobre o bom samaritano, na resposta de Jesus aos fariseus sobre quem é o próximo. Essa parábola foi registrada somente por Lucas e não traz os nomes dos personagens, mas evidencia o amor que sai do campo das intenções e entra na prática (Lc 10.30-37).

Embora as pessoas vivam em sociedade, entenda que a definição de quem é o próximo ainda traz muitas dificuldades nos relacionamentos. A cada dia o contexto social impõe regras e normas que levam as pessoas a competirem entre si, olhando para os demais como concorrente em diversos setores da vida em comum. É como se cada homem olhasse para o seu semelhante e enxergasse ali um inimigo em potencial. Pense!

Na parábola do bom samaritano, Jesus aborda o caso de um homem que foi assaltado, acabou ferido e foi atirado à beira do caminho. Por ali passaram um sacerdote e um levita que não se preocuparam em prestar socorro, todavia, na narrativa de Jesus, naquela estrada passou um estrangeiro que sem demora deu a devida atenção ao moribundo. Nas palavras de Jesus, o samaritano prestou ajuda a um judeu (coisa absurda naqueles tempos) e desta forma deixou exemplificado aos fariseus quem agiu certo para com o próximo.

“Aquele que teve misericórdia dele”.(Lc 10.37). Essa foi a resposta dos interlocutores a Jesus sobre quem fez a coisa certa. Perceba que em sua resposta o religioso judeu revelou a sua intolerância e desprezo pelo homem samaritano ao omitir a nacionalidade do benfeitor, ou seja, o verdadeiro próximo da vítima que agonizava. Simplesmente disseram “aquele”, numa clara e nítida demonstração preconceituosa que ainda teimava em ocupar seus corações.

Atente que nas palavras do religioso judeu, ele impessoalizou o ajudador, ou seja, ele esvaziou a identidade e o ato de quem ajudou o homem caído, que embora não seja citado sua nacionalidade provavelmente era judeu. Entenda aqui, a mesma situação que trafega nas sociedades em todos os níveis. Para muita gente é mais fácil desprezar as pessoas que citar seus nomes, é mais fácil inferiorizar o outro que alçar seu nome naquilo que ele faz de relevante. Reflita seriamente sobre isso!

Atente que o religioso judeu teve de reconhecer que tanto o sacerdote como o levita (que na parábola eram seus compatriotas) eram conhecedores da lei e deveriam ser exemplos no cumprimento dela, mas simplesmente a ignoraram. Não transformaram em ação o que sabiam, eram nas palavras de Tiago, meros ouvintes (Tg 1.22). Perceba que toda a verdade que eles conheciam não tinha nenhuma relevância, o conhecimento adquirido até ocupava a mente, mas não preenchia o coração, por isso, assim como muitos religiosos atuais, eles não tinham autoridade espiritual e moral para ensinar aquilo que não cumpriam. Era e continua sendo a hipocrisia em seu estado mais puro. Reflita!

Dentre muitos sentimentos ruins que permeiam o coração do homem, compreenda que o desprezo continua sendo aquele que mais fere e machuca as pessoas. Silencioso, frio e altamente direcionado, o desprezo atinge muita gente, destruindo relacionamentos, desestruturando famílias e até mesmo sendo a causa de depressão em milhares de pessoas. E por vezes, ele pode gerar a vingança, como retaliação.

Saiba que o rei Davi, antes de ser ungido pelo profeta Samuel, foi desprezado pelo pai (1 Sm 16.5-13), pelos irmãos (1 Sm 17.26-29) e mais tarde  até por sua esposa  Mical (2 Sm 6.16). E com o próprio Jesus não foi diferente, quando enfrentou o desprezo de seus compatriotas. “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se nele" (Mc 6.3). O incrível foi que nem Davi e muito menos Jesus se deixaram levar pelo sentimento de vingança. Noutras palavras, guarde no seu coração que o seu valor não é baseado no que as pessoas falam ou pensam sobre você, mas no que Deus sabe a seu respeito. Estamos combinados?  

Jesus Cristo Filho de Deus os abençoe, sempre!

 

Milton Marques de Oliveira - Pr

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